Eu ando pelo bairro do Flamengo, admirando os canteiros,
sentindo a umidade do ar. Eu ando pelo bairro do Flamengo e vejo os meninos a
me admirar. Eu ando pelo bairro do Flamengo, nas minhas mãos uma pipoca, um
picolé ou coisa que o valha. As crianças indo para a escola. Os caminhões de
entrega do Zona Sul. É cedo quando eu ando pelo bairro do Flamengo. Às vezes
tem uma neblina fina, uma névoa geladinha que vem da praia. E os prédios altos
e as árvores. A calçada do Belmonte, o aterro. Aquele vento forte bate no meu
rosto e balança meu cabelo curto. Me sinto um anjo levitando. Sou capaz de
parar entre as pistas e passar o dia ali, vendo a movimentação. Taxis amarelos
passam zunindo por mim, de um lado e do outro. O barulho vai aumentando. A
cidade vai passando pelo bairro do Flamengo, do mesmo jeito que eu um dia
passei. E quando eu penso em fincar o pé no gramado, percebo que ainda estou no
ar. Um ar agora iluminado por um sol quente e radiante que vem lá de trás do
mar. O sol aquece a minha pele, aquece o meu cabelo, os meus olhos. Eu os fecho
e sinto o bairro do Flamengo me transpassar enquanto espero a noite chegar. E no
deserto do aterro, nas calçadas vazias e escuras, passam pessoas que me olham,
que me amam, que me beijam, que me transam. Nas pistas passam os ônibus, os
taxis, os carros. Em mim passa o bairro do Flamengo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário