Sentaram na beirada da fonte artificial e não havia nada mais artificial do que o ar que os rodeavam. Trocaram palavras de desabafo misturadas a palavras de encorajamento. Ninguém percebia naquele momento a importância daquelas palavras. Foi automática a cumplicidade, mesmo que as palavras fossem tão diferentes. No fundo tocava uma música e então eles estavam na pista de dança. Rodeados daqueles corpos que um dia conheceriam. Como eram inocentes aqueles dias! Beberam, riram, dançaram. Em uma época pré Instagram Stories ainda era possível se divertir com um desconhecido. Ninguém jamais irá lembrar se houve carona, quem pagou a conta e se marcaram outro programa para celebrar aquela estranha amizade. Ninguém jamais lembrará se alguém voltou bêbado, se houve briga no estacionamento, se esbarraram com alguém doido de cocaína. Arrisco a dizer que ninguém nem ao menos lembrará das músicas que ouviram, das conversas, do sabor artificial do ambiente perfumado. Será que alguém lembra ainda das palavras, dos desabafos, da fonte?
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