Descia do ônibus e o enxergava ao longe. Ele vestia sempre o mesmo short até o joelho, de tecido sintético e de cores que variavam entre o azul e o bolinhas minúsculas brancas no fundo roxo. O cabelo comprido, liso e seco, se juntando aos poucos com a barba quase sempre por fazer. Nos dias em que a barba estava feita, não era preciso ver a pele do rosto mais clara. O frescor de menta do creme de barbear exalava o cheiro pelo bairro todo. Aquele bairro onde descia do ônibus e o encontrava.
Iam andando o caminho até a casa, às vezes ele oferecia ajuda para segurar um material. Ouvia como a resposta sempre a recusa. Falavam sobre tudo. Sobre os acontecimentos na escola, sobre o perfume trocado ou sobre o namoro que mantinham em segredo. Entravam em conflito quando o assunto era o segredo. Não era consenso manter os beijos escondidos.
Ainda assim, mantinham. Não iam de mãos dadas, mas iam. E era só pelo gosto de ter a companhia até o portão de casa, porque afinal de contas, ele morava tão perto da escola. E no dia seguinte se reencontrariam na sala de aula. Trocariam olhares apaixonados sob o disfarce de uma amizade acabada. Mantinham o segredo.
Ao fim da aula ele se precipitava, pegava um ônibus e esperava o ônibus seguinte chegar. Com a companhia pela qual rezara. Com a conversa, os beijos e até as discussões que tanto implorava, em silêncio. Naquele dia, estava de barba feita, mas ninguém ao redor sentia seu cheiro.
agora tudo soa diferente depois de ter falado com você!
ResponderExcluirbeijos
Nossa... Adorei o conto!!! Um tanto triste, mas muito bom...
ResponderExcluirUm grande Beijo... Até o próximo
High school
ResponderExcluirkitriste? não tem volta?
ResponderExcluir:-(
Adorei o texto, desde a minha primeira visita, foi o meu preferido.
ResponderExcluirIsso me lembrou uma coisa (é, seus textos sempre me lembram algo nada a ver). Uma propaganda do CVV (Centro de Valorização da Vida), que em todos lugares que um homem vai, vê uma pessoa, sempre a mesma pessoa e sempre igual. Aí no final aparece "quando vc não fala, a dor não vai embora".
Nada a ver, só lembrei =)
Beijinhos!!
http://mmansur.blogspot.com/
Ah, queria que isso tivesse acontecido comigo ! Mas com o último parágrafo diferente (ia escrever "final diferente", mas vai que não é o fim, certo?) =D
ResponderExcluirXêro!
Confesso que nem uma história em segredo como essa eu já tive. Aliás, em segredo até que sim, mas só eu sabia.
ResponderExcluirpq eu não entendi o título?
ResponderExcluirDualidades. Eu sempre acho essa situação dos beijos escondidos complicada e um retrocesso, mas ela tem lá suas vantagens. Esse "querer" que só cresce e que perdemos quando a pessoa está sempre lá, ao lado.
ResponderExcluirFins tristes!!
ResponderExcluirA realidade né?!
Abraçooo!!
"Trocariam olhares apaixonados sob o disfarce de uma amizade acabada."
ResponderExcluirsó quem vive sabe.