03 julho 2017

Vegas



Foi depois de ter entrado no dark room, de ter tocado em várias pessoas, de ter sentido suas peles úmidas e suas unhas. Depois do beijo doce, do cabelo fino. Depois de achar que o cabelo era branco, porque de alguma maneira doentia lembrei do cabelo da minha avó. Veio a língua áspera no meu pescoço e a quantidade de doenças bucais que eu listei naqueles segundos na escuridão. Possibilidades. Ah, as possibilidades!

Eu me lembro de como a parede caiu quando você gemeu e de como minha camisa ficou suja para sempre. Bêbado, eu saí dali, saí dele. Extasiado, iluminado, sentindo o cheiro de cigarro e de perfume importado. Sentindo o cheiro de suor, sentindo a energia das pessoas que cheiravam cocaína, que pairava no ar. Eu me lembro de ter girado, de ter olhado todos os rostos, da stripper no palco, dos pentelhos ruivos, em brasa. Eu me lembro de ser visto por você, lá no canto. Dos seus olhos meio caídos, alcoolizados, desistentes, sentados. Eu me lembro do tecido da poltrona, do vinil, do barulho do vinil, do cheiro, do suor. Eu me lembro do seu suor e da música que estava tocando quando eu sequei sua testa. Eu me lembro da vontade de te beijar, da vergonha de te beijar, daquele momento que precede os grandes acontecimentos que costumam nunca acontecer na minha vida.

Eu sempre me lembro desses momentos.

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