Há
uns anos você anda tão envelhecida. Todo mundo diz que você está linda e que
parece que você brilha no escuro. Eu não vejo nada disso. O que eu vejo quando
olho pro seu queixo fino e a sua boca meio murcha é o meu próprio queixo fino e
a minha própria boca pelancuda. Odeio isso em você. Odeio ver um fio de cabelo
branco na escova de cabelo do nosso banheiro. E quando você vira pra mim
daquele jeito meigo então? Às vezes me dá vontade de matar você e eu nem sei
por que. Talvez seja porque eu sei que a gente vai morrer ou só porque eu não
consigo imaginar que todos aqueles nossos anos e declarações se transformaram
nessa colcha velha e rasgada que a gente carrega nos nossos ombros como dois
inválidos. Olhar pra você pela manhã me dá essa sensação, de que nós estamos
mortos antes mesmo de estarmos. E quando você sorri é a hora em que eu culpo
você por estarmos assim. Algumas vezes tenho certeza que se não tivesse me
amarrado a você, não estaria sentindo tão de perto o cheiro da morte. E aí vem
todo mundo dizer que você está linda e segura e brilhante. Gostaria que você
brilhasse para mim de vez em quando. Ou isso ou que a catarata que cresce nos
meus olhos sumisse de vez
pq seus escritos andam tão amargos?
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Excluireles falam sobre a decepção em uma relação, Bratz. mas relação também tem amor. pode crer que tem.
ResponderExcluirOs escritos do Antonio sempre foram amargos, não há novidade nisso. E eles são bons por isso. É uma amargura tão doce. Na verdade é que seus textos são tão doces que amargam na boca.
ResponderExcluirO doce só é doce por conta do amargo, né?!
ResponderExcluirUm grande abraço meu amigo.
Caro Antônio,que belo texto,de alguma forma me vi nele, em algum momento da minha vida, e sinto esse gosto agridoce existencial de quando em vez, tão bem descrito por ti, nos relacionamentos...Gostei daqui, voltarei, e obrigada pela visita lá no meu bloguinho!
ResponderExcluirAs vezes a gente sente exatamente isso, e depois vê que está tudo errado, que somos nós mesmos.
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