19 abril 2011

Da depressão


Eu estou tonto enquanto as palavras surgem no meu computador. O silêncio me dói a cabeça. Bem no meio do crânio. Em meus ouvidos zune um zunido contínuo. Eles parecem que vão rachar. Meu corpo todo parece que vai rachar.

Mas meus olhos estão secos. Talvez eu esteja seco por dentro. Um dia já levantei essa hipótese. Porque os filmes não me emocionam, as músicas também não. Por mais que eu procure as mais tristes. As que falam de amores e vidas perdidas por amores.

Eu nunca amei e talvez nunca chegue a amar. E talvez a culpa não seja de ninguém. Talvez a culpa seja minha mesmo. Por ser como eu sou. Mas eu não sei ser de outro jeito.

Enquanto as palavras surgem no meu computador, enquanto minha vista vai ficando mais e mais cor de laranja, pego meu celular, apago números de telefone, apago mensagens enviadas e mensagens recebidas. Com uma frieza que nem mesmo eu reconhecia.

Meu quarto está em silêncio, meus materiais de estudo estão espalhados pelo chão e a cadeira onde estou sentado de repente se tornou tão desconfortável. Tudo o que eu queria era que não tivesse tanta coisa jogada no chão pra que eu pudesse me jogar.

Eu espero acabar. Eu espero a frase que finaliza. A de maior efeito. E nem foi tão grave assim, era algo que eu já até sabia. Mas o sentimento (?) não sabe dessas coisas e pensa sempre haver chance para uma segunda chance.

As mãos geladas que seguravam meu pescoço não encontravam vida alguma. Eram as minhas mãos. Eu só precisava de uma palavra amiga. Porque eu estava mal. Não tão mal quanto normalmente eu fico. Mas era justamente esse fato que me deixava mais tonto. O fato de tudo aquilo não me afetar como me afetava outrora.

E quando acabou, eu já estava com o meu trabalho feito. Mais uma pessoa excluída da vida. Mais uma pessoa que não fará falta. Como todas as outras igualmente excluídas. Porque as pessoas são descartáveis e eu não sou o único que tem consciência disso.

Eu fechei o computador. Me deitei. E, sem sono, dormi. Porque eu estava cansado e já passavam da meia-noite. Fechei meus olhos e, antes que eu percebesse, estava dormindo. Hoje acordei tonto. Mais do que ontem eu fui dormir. Pisei nos papéis espalhados no chão, saí do meu quarto, bebi uma água. Vi comprimidos jogados perto da minha mochila. Meus comprimidos para ansiedade.

E tanta gente se faz de coitado. Eu sou só mais um.

9 comentários:

  1. Querido tudo isto faz parte da vida ... tudo tem a sua hora certa ... as pessoas q vêm e q passam não eram as certas ... só isto ... o problema é q nesta idade somos naturalmente ansiosos pelo definitivo ... e o tempo da vida não é o tempo q estabelecemos ... tranquilize-se ...

    bjão

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  2. O próximo passo é pegar em armas e ir pra uma escola atirar em criancinhas.
    Tudo começa assim.

    Autor, aquele do humor negro.

    :-P

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  3. Lindo, você sabe que te quero muito, né? Quando quiser, é só chamar pra um chopp e tudo bem, viu?

    Pessoas são SIM descartáveis. Não todas, mas algumas são e devem ser descartadas. E a vida segue.

    Beijo enorme

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  4. Eu simpatizo com os de corações gelados. De verdade.

    Razão para sermos assim existem.

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  5. tenho medo de amargurar. Fatos que nos deixam assim estão bem constantes na minha vida.

    eu adoro vc!

    bj

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  6. Eu quase não sinto mais esta ausência de alguém... e me parece bom isto.

    Bj

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  7. É a melhor coisa que se tem a fazer: esquecer... Ou pelo menos tentar. Quando algo não te faz bem, como um câncer, vc faz uma cirurgia e tira esse câncer. o Problema é que o câncer pode voltar, e é aí que agente tem que se certificar e tomar todas as providencias para que isso não conteça...

    Um grande beijo, Antônio... até o próximo

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  8. Não me identifiquei com o texto, mas senti a angustia nas entrelinhas.

    nem sei se é o sentimento certo, mas eu senti.

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  9. pergunta: o poema abaixo é seu ou do lorca?

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