30 março 2011

Visagista



Conversaram no chat da UOL por mais ou menos quarenta minutos. Marcaram um encontro no Mc Donald’s do Largo do Machado. Foi de bermuda bege, tênis branco e pólo azul clarinha. No rosto estampado o medo de encontrar o novo, o desconhecido, o sem-dimensão.

E lá estava, de sandália de couro, óculos escuros e algumas pulseiras alternativas no pulso direito. A barba por fazer, o cabelo de um loiro natural, ondulado, nem grande, nem pequeno. Parecendo meticulosamente fora de corte. Cheirava a quarto limpo.

Propôs deixar o lanche pra uma próxima vez e, ao invés disso, conhecer sua casa. Andaram até depois do viaduto e entraram na rua ladeada de árvores e casinhas residenciais. Morava num prédio modesto e tinha aquela cachorra. Vira-lata de mais ou menos cinco anos, presente de um outro amor. Famosa Odete.

Conversaram, beberam, fumaram. Beijaram-se, despiram-se, deitaram-se. Quando viu, sua pólo estava jogada no chão, entre a chapinha da garrafa de cerveja e o cinzeiro cheio de fumo velho e seco. A bermuda no pé da cama e seu corpo jogado ao léu.

Estava ali, entregue ao estranho, ao desconhecido, ao sem-dimensão. Repentinamente, quase tão repentino quanto aquele encontro em si, levantou-se e vestiu-se. Saiu, dando um adeus nem um pouco carinhoso a Odete.

Ainda hoje, quando passa pelo Largo do Machado lembra daquela conversa despretensiosa, aprendendo o que faz um visagista. Lembra de pensar que não passava de um maquiador e cabeleireiro que não gostava de se assumir maquiador e cabeleireiro. Ele enchia boca e dizia que construía a imagem do personagem, enquanto o outro estava ali, só tentando se construir.

7 comentários:

  1. A vida é cheia de encontros furtivos, que, apesar de passageiros, sempre deixam um cheiro na camisa.
    Bjux

    ResponderExcluir
  2. verdade.
    sempre ficam cheiros e...marcas.

    bjs

    ResponderExcluir
  3. Visagista, essa história me é tão familiar.

    Quantos encontros em outros Largos, lanches deixados pra trás e transas convenientes.

    Certo? Errado? Sabemos apenas que não podemos fazer aquilo que não nos faz feliz quando o assunto é amor e que quando a gente deseja algo, é bacana que nos preparamos pra isso.

    Talvez, ou não, no caso do nosso amigo o lanche teria sido uma boa pedida. Mas só experimentando pra saber se era bom mesmo....

    O lanche.

    ResponderExcluir
  4. é... nem tudo que queremos é exatamente oq encontramos... mas a busca, se for o caso, trará um resultado mais cedo ou mais tarde! não desiste!

    ResponderExcluir
  5. tadinha da Odete!

    ah, as lembranças!

    ResponderExcluir
  6. para de marcar putaria na uol!
    saudade!

    bjooo

    ResponderExcluir
  7. não recuso um lanches ... eles sempre podem nos surpreender ...

    ;-)

    ResponderExcluir