30 novembro 2018

Amor de tragédia

Existem amores de verão e amores que são só de carnaval. Amor de trabalho, amor de infância, amor de faculdade. Amor de congresso, amor de viagem em qualquer estação, em qualquer continente. Nosso amor foi de tragédia, aconteceu bem antes do fim do mundo. Compartilhamos o caos juntos, em um quarto de hotel. Olhávamos para o teto enquanto o céu desabava lá fora, entre gritos da multidão e carros colidindo uns com os outros. Os estouros dos fogos de artifício se confundiam com o silêncio de nós dois, aquele silêncio que já tinha sido risadas calorosas. Que já tinha sido histórias de outrora. Na luz amarela, eu vi seus olhos cheios de lágrimas e eu não soube se era de medo do fim do mundo ou de medo do início da nossa história. Na dúvida desviei o olhar e fiquei passando a mão no seu cabelo. Eu ainda sinto na ponta dos meus dedos como era gostoso. Deixar o mundo acabar lá fora e ficar com você. Com a certeza de que, mesmo que eu não quisesse, para sempre me lembraria daquele momento. Para sempre me lembraria de você, da gente. Fadados ao fracasso, ao fim, do mundo e da nossa história. Não adianta, amor de tragédia acaba em tragédia. Assim como o mundo que lá fora acabava.

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