06 junho 2014

Dostoiévski


Eu tinha tanto pela frente. Tenho certeza disso toda vez que penso no assunto. Ainda que a minha vida tenha sido um monte de momentos de solidão e sexo desvairado, gosto de acreditar que eu tinha o potencial para ser aquilo que sempre achei que ia ser. Não quer dizer que eu seria o que a minha mãe sonhou. Pelo menos não completamente, mas também não é essa figura amarga e carrancuda que me olha no espelho do corredor. Me sinto cansada e negativa como uma personagem de Dostoiévski. Não era assim que eu imaginei que seria. Fiz planos de almoços felizes, da casa cheia de crianças e a gente bebendo vinho até bem velhinho, fumando nossos cigarros e falando de poesia. Talvez esse sonho seja só de um outro escritor. Talvez seja tão negativo quanto Dostoiévski. O que sei é que quando olho pra essa realidade estranha em que vivo, sinto a impotência que via nos olhos da minha mãe e das suas amigas. Fico imaginando se seus olhos hoje em dia também têm essa impotência, se você se sente incompleto porque não está ao meu lado.

7 comentários:

  1. Nossa, ai que texto mais doído, admiro muito com mostra as vísceras aos escrever.
    Como você cita Dostoiévski lembrei do diário do subsolo.
    Vai passar...

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  2. Então... confesso que tem dias que tenho medo que no final meus sonhos "não sejam para mim"...

    Grande Abraço...

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  3. Me descreveu com tanta clareza...

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  4. Ahhh,ele era o autor favorito do meu pai,herdei toda a coleção,daquelas antigas,com capa de couro,o meu velho amava..Crime&Castigo,Os Irmãos Karamazov,q maravilha...

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  5. Olha, não sei se é o sonho de outro autor, mas cada linha foi tão brutal quanto o último pesadelo de muito autor. Brutal e lindo. Ainda estou tentando juntas as minhas vísceras que se espalharam pelo chão do quarto depois dessa. ;)

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