Eu tinha tanto pela frente. Tenho certeza disso toda vez que
penso no assunto. Ainda que a minha vida tenha sido um monte de momentos de
solidão e sexo desvairado, gosto de acreditar que eu tinha o potencial para ser
aquilo que sempre achei que ia ser. Não quer dizer que eu seria o que a minha
mãe sonhou. Pelo menos não completamente, mas também não é essa figura amarga e
carrancuda que me olha no espelho do corredor. Me sinto cansada e negativa como
uma personagem de Dostoiévski. Não era assim que eu imaginei que seria. Fiz planos
de almoços felizes, da casa cheia de crianças e a gente bebendo vinho até bem velhinho,
fumando nossos cigarros e falando de poesia. Talvez esse sonho seja só de um
outro escritor. Talvez seja tão negativo quanto Dostoiévski. O que sei é que
quando olho pra essa realidade estranha em que vivo, sinto a impotência que via
nos olhos da minha mãe e das suas amigas. Fico imaginando se seus olhos hoje em
dia também têm essa impotência, se você se sente incompleto porque não está ao
meu lado.
talvez seja mesmo o sonho de um outro escritor ...
ResponderExcluirNossa, ai que texto mais doído, admiro muito com mostra as vísceras aos escrever.
ResponderExcluirComo você cita Dostoiévski lembrei do diário do subsolo.
Vai passar...
Então... confesso que tem dias que tenho medo que no final meus sonhos "não sejam para mim"...
ResponderExcluirGrande Abraço...
Me descreveu com tanta clareza...
ResponderExcluirSempre quis ler Crime e castigo...
ResponderExcluirAhhh,ele era o autor favorito do meu pai,herdei toda a coleção,daquelas antigas,com capa de couro,o meu velho amava..Crime&Castigo,Os Irmãos Karamazov,q maravilha...
ResponderExcluirOlha, não sei se é o sonho de outro autor, mas cada linha foi tão brutal quanto o último pesadelo de muito autor. Brutal e lindo. Ainda estou tentando juntas as minhas vísceras que se espalharam pelo chão do quarto depois dessa. ;)
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