16 junho 2014

Boa noite


Você está aqui, diante de mim, depois de todos esses anos em que não nos encontramos, em que não ouvimos um a voz do outro. Eu sei que você tem alguém ao seu lado. Eu sei que você talvez nem se lembre de mim. Foram tantas coisas que aconteceram entre o dia em que não nos despedimos e hoje. Eu não sei o que dizer ao passar do seu lado. Minhas mãos estão suadas, minhas pernas tremem, meu coração bate acelerado. Seguro a taça com um pouco mais de força do que seguraria normalmente e vou andando na sua direção. Enquanto ando mesmo sem sentir meus pés, penso no tom de voz que quero usar. Quero parecer um corpo sem tensão alguma, como se te ver me deixasse feliz, mas com uma felicidade banal. Nada que me faça perder a noite pensando no seu sorriso. Nada que faça eu te dizer para viver uma outra vida comigo, ainda que isso implique em você largar sua família. Eu aceitaria sua família de qualquer maneira, você não teria de abrir mão de nada. Viveríamos escondidos, viajaríamos para o interior um fim de semana por mês, nos encontraríamos no lado de lá da cidade. E quando estivermos andando de mãos dadas por uma praça qualquer e encontrarmos um conhecido seu, nos afastaremos e fingiremos que não nos conhecemos. Meia hora depois, nos encontramos e nos amamos. Talvez isso fosse a coisa certa a dizer quando eu alcançasse você do outro lado do salão. Você e sua companhia. Dou mais um gole no vinho pra ver se tomo coragem, mas percebo que só o vinho não é suficiente. Estou cada vez mais perto de você. Tanto que já sinto seu cheiro no meio desse monte de cheiros ao nosso redor. Ouço sua voz falando alto alguma coisa com alguma pessoa que nunca vi. Ouço sua risada. Meus olhos ficam cheios de lágrimas, meu estômago revira e meu coração parece revirar junto. Nunca me senti assim. Parece que vou morrer ao te ver. E quando o pensamento da morte passa pela minha cabeça, aí seus olhos me acham. Agora parece que não resisto, justo quando você sorri para mim como quem diz “Quanto tempo!”. No meio do desespero, do medo, do nervosismo e da dor de estômago aguda, esboço um sorriso no meu rosto. Tenho certeza que não é meu melhor sorriso, tenho certeza que não pareceu tão sensual quanto eu gostaria que fosse. Meu primeiro sorriso para você em anos, a primeira vez que nos vemos. Quando chego tão perto que posso te tocar, não me seguro e te toco, desses toques que parecem ocasionais e que não despertam atenção alguma. Um toque de leve no cotovelo e, ao sentir sua pele, parece que todos os meus poros que vinham adormecidos se acendem. Sinto o meu coração ficar quente e a minha pele brilhar. Meus olhos sorriem mais do que minha boca. Da sua boca vem o som que há tanto tempo espero ouvir.


3 comentários:

  1. Vc escreve bem demais! Benza Deus!

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  2. Tão perto e tão longe, real e irreal, esses sentimentos as vezes são tão contraditórios , deliciosos mas tb doem...

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