03 setembro 2011

Paisagem


Escondo sob os meus lençóis uma paisagem que é só minha. Refugio-me quando não há cigarro nem vinho tinto. Fecho os olhos e me cubro e, em um minuto estou lá. E tudo o que vejo e sinto é a luz que tenho dentro de mim e ninguém vê. Algumas vezes sinto que estou delirando, que não há luz alguma em mim. Abro os olhos e o que vejo é que o pensamento da existência dessa luz é bem mais quente e reconfortante que a dúvida. Então eu os fecho de novo e só admiro a paisagem. É tudo tão lindo, tão perfeito. É a simetria sendo  as minhas formas e nunca as minhas formas tentando ser simétricas. É  calor nos pêlos dos meus braços e os meus braços em posições confortáveis.

Eu não me engano. Sei que não dura para sempre, sei que é só uma paisagem escondida debaixo dos meus lençóis para recarregar as forças e continuar. Sei que mais cedo ou mais tarde terei de dar um breve adeus àquelas coisas, até que a noite volte de novo. Enquanto isso me cubro, protegendo-me do resto do mundo com o resto de paisagem que ainda me sobra.

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