19 agosto 2010

Calça de sarja

Ele não se encaixava mais em lugar nenhum. Nem na calça de sarja que usara no verão passado, nem no boné daquele time de basquete norte-americano. Ia para os lugares com a vontade que tinha de extrair um dente porque ainda não descobrira em que lugar enfim se encaixava.


E quando chegava em casa era como se quisesse estar na rua, em qualquer um daqueles lugares que costumava estar. Quem sabe até na calça de sarja? Porque nem em casa se encaixava. Parecia não sobrar lugar.

Como aqueles personagens de filmes tiram uns meses para pensar, se conhecer e hibernar na caverna, por mais que a caverna seja pequena, ele decidiu ficar em sua cama aquela noite. Deitado de bruços, com o rosto afundado no travesseiro, de pijama listrado.

Nem na garrafa de vodka, aquela na geladeira, ele se encaixava mais. Era como se, aos poucos, os lugares fossem ficando menos convidativos, do mesmo modo que seu corpo, do mesmo modo que a calça de sarja. Nem sabia se já tinha usado aquela calça de sarja.

Era o período de novos tecidos, era o tempo de não saber por onde começar. Bastava colocar as mãos no bolso de uma calça que servia, ainda que não se encaixasse. A hora de dizer adeus e seguir até a rua da frente, fosse qual fosse a distância.

5 comentários:

  1. oxalá, e que o caminho seja-lhe bom.

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  2. Sabe que, em sentido filosófico, lendo seu texto, me identifiquei totalmente, pelo momento "depre" por qual estou saindo né? Se não, peço desculpas por tentar sempre um sentido mais amplo rs. Claro que eu te leio e posso imaginar sim como se sente!!! Mas é como EDU disse, os iguais devem se encontrar e saber que ao menos ali têm um lugar seguro, para serem quem são! Bjuuu!

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  3. Amigo pense pelo lado positivo ... se no mundo só tivéssemos "gordos" estaríamos muito mais próximos uns dos outros ...

    solidariedade mode on ... rs

    bjux

    ;-)

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  4. sempre é período de ir em frente!

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