08 junho 2010

Eclipse


O eclipse estava previsto para aquela semana, era o que tinham enxergado nos fundos dos poços os magos do reinado. Sandy, com medo daquilo que nem sabia, se reaproximou dos amigos e, com eles, do sapo.

Toda a reaproximação acabou em beijos na boca. Ainda que o sapo temesse voltar a ser sapo, ao beijar a bela e loira princesa. Ela já havia cansado das tabernas e dos romances efêmeros, ainda que não estivesse disposta a aprovar todas as calças que o sapo agora vestia.

A intenção de Sandy era manter uma relação aberta. Dessas que a gente só encontra nos filmes excêntricos que fazem na Europa. Eles trocariam beijos durante a semana e dariam a volta no lago aos sábados, sem compromisso, é claro. Era mais um jeito de conseguir uma companhia masculina-anfíbia fixa do que amor.

Como falamos de um reino festivo, foi em mais uma festa que Sandy e o sapo passaram dos limites nos tonéis de vinho que consumiam. Carregaram nas costas o peso das mágoas e dos desejos. Não há dia melhor que a véspera do eclipse.

Sandy não contava, entretanto, com a notícia que vinha junto com o eclipse. Um amiguinho da floresta, daqueles bem desinformados, sem saber do recente envolvimento entre o sapo alpinista social e Sandy - a princesa apaixonada - declarou o que sabia sobre uma outra princesa. Uma que não se chamava Wanessa. Uma que teria sobrenome.

O sapo estava conhecendo uma outra menina, longe do ramo artístico e da música. Não era ex-BBB nem integrante de grupo baiano. Sobre ela, não sabia-se muito. Mas era o suficiente pra Sandy saber que eles estavam namorando.

O plano da princesa, indo por água abaixo, se tornou sua frustração da semana. E seu motivo para beber na taberna. Afogar as mágoas, como se não exibisse cabelos que, a cada dia, estavam mais loiros. O único homem, aquele que só se tornara homem ao beijá-la, não havia respeitado ela.

Amaldiçoava cada calça jeans que o sapo usaria. E cada noite de sábado que não passariam juntos. E cada tonel de vinho que bebera na noite antes do eclipse. A fossa foi tamanha que ela nem notou a sombra da lua na frente do sol. Nem a chuva de confete que caía debaixo da janela. Aquela onde um plebeu fumava aquele cachimbo cheiroso. Ela só podia ver o fundo do seu copo.

4 comentários:

  1. "A intenção de Sandy era manter uma relação aberta. Dessas que a gente só encontra nos filmes excêntricos que fazem na Europa."

    adorei esse trecho...

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  2. Na minha humilde opnião, um dos melhores.

    "Amaldiçoava cada calça jeans que o sapo usaria. E cada noite de sábado que não passariam juntos. E cada tonel de vinho que bebera na noite antes do eclipse."

    Cada,cada,cada.

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  3. É que a gente tem mania de tentar fazer da nossa vida filme... Mas é que filme europeu anda um pouco longe da nossa realidade sulamericana...Vai ver foi por isso que não deu certo.

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