13 abril 2010

Me adiciona ponto com


O nome dele me dizia que morávamos na mesma cidade. Veneza não poderia ser um sobrenome. Começava com Gus e terminava com tav. O que vinha pelo meio ninguém sabe ao certo. Talvez alguma canção do Elton John. Talvez um álbum inteiro dele e sua coleção de óculos. Restava a dúvida.

Outros perfis surgiram no meadiciona.com e me mostraram que estudávamos na mesma universidade, talvez tenhamos ido às mesmas festas de irmandades ou às mesmas festas de swing. Sim, tem gente que gosta de swing estando solteiro. Tem gente que pode entrar em swing estando solteiro. Na verdade, eu não sei nada sobre swing.

Frequentávamos os mesmos lugares e, quando não, eu descobria onde ele estava e ia atrás. Fazia amizade com seus amigos, bebia com todos eles e dava uma de “temos-humor”. Mas ele nunca me olhava.

Ele tinha tudo que devia ter. Era educado, antenado, bom gosto musical, ia ao cinema, cortava o cabelo com certa regularidade, bebia, morava perto, beijava na boca e usava roupa de marca. Ainda que não fossem minhas marcas favoritas.

Um belo dia descobri com antecedência onde ele estaria. Faltavam vinte dias. Tempo suficiente para eu emagrecer um pouco, mudar meu corte de cabelo e exercitar meu sotaque, para acentuá-lo. Ainda tinha que descobrir o que havia no meio do seu nome, para abordá-lo da maneira certa e com um assunto certo.

Achado o assunto, parti para o próximo passo, me fazer ser alguém. Atualizava meu Twitter a cada cinco minuto. Devia fazer alguma diferença. Retwittava o que ele twittava. Conjugava o verbo twittar em todos os tempos e conjugações possíveis nas três diferentes dimensões de Avatar. Estávamos em 2010.

Mas não era a mim que ele queria. Ele mencionava outra pessoa. Morava numa tal cidade chamada Campinas e também levava isso no nome. Campinas não podia ser sobrenome, era o que me dizia o Google Maps.

Tinha lhe mandado chocolates e as fotos mostravam isso. Outra pessoa mencionava os dois – Veneza e Campinas – perguntando se surgia um novo romance. Eu me perguntava: Por quê?

Campinas não morava perto, não gostava de cinema, nem de boa música. Campinas tinha sua página recheada de replies e os links lá eram de um verde fluorescente horrível, enquanto os textos eram rosa-pink. Campinas não cabia na nossa história. Não conhecia seus amigos de bar. Só os amigos de MSN.

Veneza disse que conversariam mais tarde, respondendo à pergunta se surgia ou não um namoro entre Veneza e Campinas. Esse que perguntou eu não sei de onde era. Mas era na África, isso eu sei. Isso eu sei.

Um comentário:

  1. rsrsrs adoreei, não sei pq me identifiquei com seu texto rsrsrsrsrs
    enfim...
    beeijos o/

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