25 abril 2010

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A amiga daquele menino que é gay faria de tudo pra saber que ele era gay. Ou pelo menos saber da maneira certa. Aquelas conversas do tipo “preciso-te-contar-uma-coisa”, “você-não-pode-contar-pra-ninguém”.

O primeiro passo era falar bem dos homossexuais, mesmo aqueles estranhos que usavam cabelo com balaiagem ou aqueles que usavam calça xadrez. Fashionismo era coisa de gay. Fashionismo e Sex And The City. Daria certo falar sobre Sarah Jessica Parker.

Ele continuava lá, beijando meninos em noitadas escusas pelo centro da cidade, tão heterossexual quanto sempre fora. Não cantava Lady GaGa, nem pronunciava a palavra heterossexual. Só gays fazem isso.

O segundo passo foi andar com lésbicas, daquelas femininas, maquiadas, do tipo novela das oito. Aquelas modernas que ficam com meninas, meninos e com plantas carnívoras. Ela evitava as plantas carnívoras. Esse seria o último passo, mas ainda estava longe de lá.

Depois partiu pro desabafo. Falar de suas experiências. Aquelas imaginárias tipo sexo oral na vizinha de baixo, beijo triplo na última rave, mesmo aquela que ela nunca pisara. O amigo gay não demonstrava terror, nem estranheza. Era bem daquele tipo de hetero que não fala hetero e que é amigo de gays.

Mas isso é o que ela queria ser – a amiga do gay – ela pensava. Não é porque ele não canta Bad Romance, não gosta de comida japonesa e curte futebol que ele é heterossexual. Afinal de contas, eram amigos. Ela sabia o que ele era. E ninguém assegurava àquela menina determinada a garantia daquela teoria.

Ele, por outro lado, continuava irredutível. Ainda que algumas pessoas já soubessem. Ainda que ele falasse com elas com certa naturalidade sobre o assunto. Mas com ela o assunto era outro. Com ela, ele não sabia quem era Samantha ou Miranda.

Nas noitadas, ela abusava do álcool pra tomar coragem e levar o plano adiante. Beijava meninas, era a perfeita lésbica feminina, que se maquia e sai com todo tipo de gente – menos as plantas carnívoras. Ele só estava esperando que ela perguntasse.

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