22 março 2010

Cíclico

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Tremi quando reencontrei você e vi os seus olhos, como sempre, tristes. Olharam o nada aguardando o nada, mas eu não deixei de olhar você e lembrar da alguns momentos de nossas vidas. Não sei ao certo o que me deu, mas não fui falar contigo como deveria fazer, o mais certo a se fazer. E não fiz. Você se foi e em mim deixou um estranho sentimento que não sei qual é. E os seus olhos olharam os meus no último instante. Eu não desviei e olhei fundo, como nunca fizera com ninguém. E agora ainda sinto o arrepio só de pensar em você e penso que tudo isso é saudade, ou arrependimento. Por ter sido tão covarde e não ter ido falar contigo. E você me olhou tão fundo na sua ida, mas não parou. Talvez não tenha me reconhecido, ou então não sinta nada por mim, é normal e lógico, eu sei que sim. Ou ainda pode ter sido tão covarde quanto eu, desperdiçando a única e última chance de nos falarmos. Mas agora, em mim, o sentimento toma conta. E eu não me abro como deveria, e eu não me entendo como deveria. E eu me mato por dentro, sentindo que nada mais existe. A não ser seus olhos perdidos e caídos, o seu cabelo liso sobre a vista, molhado de chuva. O casaco branco enrolado no cotovelo dizia que tinha calor e não sai da minha cabeça. O short meio molhado, a boca meio aberta... Não consigo me esquecer da sua fisionomia e do seu nome. Mesmo que eu tenha esquecido como ele se escreve. Mesmo que eu não devesse lembrar.

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