26 março 2010

Aquela menina

Foi com ela que dei meu primeiro beijo. Foi com ela que fiz meu primeiro desabafo. Foi pra ela que dediquei meus primeiro choros de romântico que sou. Que fui. Ela que ainda era a mesma. Que mantinha o mesmo cabelo e os mesmos cachos no cabelo. Podia traçar o caminho que seus cachos faziam. Olhos fechados. Quem sabe se até me giraram antes? Repetidas vezes pra eu ficar tonto e desorientado. Lá estava ela. A mesma doçura no olhar, como se sustentasse aqueles cinco anos passados escondidos numa gaveta secreta. Ela me esperava. Tremia da cabeça aos pés, mas a vontade era inerente ao ato. Despia-se involuntariamente, enquanto eu, de longe, observava encantado o balé dos seus braços. Eles também não haviam envelhecido. Meus braços a rodearam e a protegeram. Minhas pernas foram a base para o seu tremor. Não era medo. Era excitação. Foi como reviver os anos de criança, sentíamo-nos ainda como crianças. Estávamos fazendo amor. Ao fim, foi um misto de satisfação, medo e alívio. Havíamos nos guardado um para o outro, nos dado um ao outro. Na hora certa, local e maneira. Deitados continuamos, na cama sem dossel. Também não escutamos juras. Aquela poderia ser nossa última vez. Estávamos preparados, estávamos resignados. Sábio quem disse que deve ser especial.


Um comentário:

  1. Rapaz, espetacular teu texto.
    Pude sentir cada palavra, cada detalhe. Um grande prazer!
    Um momento lindo, uma espécie de nascimento.
    Parabéns.
    Saio maravilhado daqui.

    Ah, eu não sou feliz por aquela história. É um ciclo.
    Sabe o amor que teme novos fracassos? É isso, por isso é um amor ininteligível. rs

    Abraço.

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