29 agosto 2017

Cinema independente



Eu imagino sua vida como um filme independente. A fotografia fria, meio desfocada, um roteiro conciso, objetivo, com pouco diálogo. Algumas cenas de nudez, algumas piadas despretensiosas, mais ou menos como as piadas que se fala no dia a dia. Uma cena de noitada aqui, uma festa de amigos ali. Entre elas um monte de cenas em um apartamento pequeno e decorado da maneira mais cool que se possa imaginar. É para lá que você leva seus garotos e os beija sem o compromisso de uma relação. Ainda que eu saiba que sobra em você um pouco de romantismo, eu te imagino cínico. Eu diria sem esperanças, mas a verdade é que você só é adulto. Nesse cenário, você sabe que qualquer intensidade é puro artifício de filme ruim, então você leva a sua vida como se ela não fosse real, definitiva. Você bebe café e fuma um baseado. Isso ajuda a passar o sábado mais rápido. Vê um filme em casa, come mal, toma banho e usa o telefone celular para encontrar seus amigos. Você não trabalha porque não é esse tipo de filme. Ou trabalha, mas não tem muita importância. É um estilo de vida jovem, europeu, que só faz as coisas andando. Ou de trem. Não é muito consumista, gasta com viagens, onde você conhece outros garotos, ama outros garotos, esquece outros garotos. Tudo se passa em no máximo uma hora e meia. Momentos silenciosos, uma trilha sonora discreta. No fim, uma música de uma banda indie que ninguém conhece. Ousado na medida certa, real de modo que a audiência se identifique, legal para virar um clássico hipster. Quem liga se ser hipster já saiu de moda?

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