28 maio 2014

Raiva


Eu morro de raiva quando vejo você rodeado de amigos, fazendo coisas legais. Parece até que eles não veem o quanto você é chato, sem-graça e previsível. Aí eu me lembro de uma máxima que eu li em algum lugar. Provavelmente num pacote de biscoitos recheados ou na caixa da pizza daqui do bairro. A máxima dizia justamente isso: “As pessoas nunca conseguem perceber quando alguém é chato, sem-graça e previsível”. Só então, consegui encostar a minha cabeça no travesseiro e dormir em paz. Sabendo que o problema não estava comigo, estava com todo o resto do mundinho em que eu vivo. Esse bando de gente chata, sem-graça e previsível que nunca entende as minhas piadas nem leem pacotes de biscoitos recheados e caixas de pizza. Apesar de ter dormido em paz, a raiva permanece aqui. Não sei se você entende como isso pode acontecer, mas acontece. É como se você terminasse a garrafa de uma bebida muito cara com amigos ou como se você assistisse o último episódio de uma série longa sozinho. E essa raiva não passa por nada. Eu durmo, acordo, tomo banho e meus moderadores de apetite e a raiva não me larga. Dou uma olhada de novo nas suas fotos, dou uma olhada nos seus amigos. Passo o dia trincando os dentes e roendo as unhas, ao mesmo tempo. No fim da noite engato nos mesmos pensamentos e sonho com um musical. Você desce escadas iluminadas cantando em plenos pulmões a máxima da minha caixa de pizza.

2 comentários:

  1. ... e tropeça e cai e racha o crânio no mármore duro e frio do Teatro Municipal!! Yes - sei tudo dissaê!! :-)

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