14 julho 2011

De olhos virados


Ele só não olhava para mim. Nem quando estávamos só nós dois. A televisão parecia mais atraente e até o cinzeiro lotado de guimbas apagadas. Passava horas a não me olhar e a não tocar meu corpo como eu desejava que tocasse.

E quando foi a hora de eu me ir embora, quando eu esperava que tudo mudasse e que, enfim, ele visse que eu estava alí ao seu lado esperando pelo conforto e pelo desejo que partia de cada um dos seus poros aquecendo os meus, nem nessa hora ele me viu.

O que viu foi meu corpo jogado na cama de casal vazia e meu pijama listrado desacompanhado no meio da madrugada. Entre um cigarro e outro fumado, entre uma palavra e outra falada, permanecia entre nós a distância que seu olhar matinha do meu.

Não pude fazer nada senão deitar para o lado esquerdo, imginando seu corpo jogado no seu lado da cama, quase único, sob a gravidade da tensão que mantinha nossos corpos tão separados. Ainda hoje sou capaz de dizer a cor daquela tensão, até seu cheiro. Porque seu cheiro permanece pairando no cômodo amadeirado enquanto dividirmos o mesmo luar.

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