18 setembro 2010

Estórias do Meu Mundo

Esse texto faz parte da séries Estórias do Meu Mundo, em comemoração ao aniversário de 5 anos do blog Estórias do Mundo



Já faziam dois anos que não conversávamos. Ou quase dois anos. E começou com um “Olá, tudo bem?”. Típico dele. “Olá, tudo bem?”.

Eu disse “Oi” e quando eu vi havia se estabelecido uma conversa. Eu ainda lembrava das fotos que ele postara há umas duas semanas, ele e um menino num show. Um menino que fazia bem o tipo dele. Loiro, magrinho, com cara de menina. Ele vivia me dizendo que gostava de homens assim, enquanto a gente namorava.


Eu convivia bem com isso na época, mas quando vi a foto algo aconteceu. Eu gelei porque fiquei feliz por ele. Porque fiquei frustrado. Era o show da mulher que cantava a nossa música, porque aquela ainda era a nossa música, ainda que não exista mais “nós” há dois anos. Ou quase dois anos.

Eu gelei e lembrei quando vi o recado do menino, o mesmo menino da foto, há quase um ano atrás, quase seis meses depois que a gente terminou, dizendo que “não via a hora de comer cachorro quente na casa dele”. O cachorro quente que era meu. Lembrei que aquele foi o motivo pra eu cortar relações. Porque pra mim ele ainda era especial. E eu não passei de um ex-primeiro-namorado.

Como se fosse possível um atual-primeiro-namorado. Ele vivia dizendo na conversa que não havia como não comentar com uma companhia, quando passava pela minha estação do metrô, que ali morava o seu ex-primeiro-namorado-pra-valer.

Eu disse que não gostei do título que me fora atribuído. Ele disse que não havia como dizer outra coisa, porque eu não sabia quem era a tal companhia. Subentendi que era a mesma com a qual ele decidiu não ver Uma Prova de Amor semana passada. “A gente decidiu ver outro”.

Eu não perguntei quem era “a gente”. Eu perguntei que filme eles viram. Afinal de contas fazem dois anos. Ou quase dois anos.

A conversa continuou. Ele me chamava de “garoto” e dizia que não havia como não pensar em mim quando ouvia nossa música. Eu disse que também lembrava sempre. Mas a verdade é que eu evitava ouvir nossa música. Porque eu evitava lembrar dele.

Ele disse que me chamar de “garoto” era melhor do que me chamar de como me chamava. Eu não lembrava como ele me chamava. Ele me chamava de “menino”. E me veio a imagem da Kate Winslet em O Leitor. Me veio à mente os banhos, dados e tomados.

Eu estava gostando de conversar com ele. Ele curte boate gay agora. Ele tinha tanto medo de sair quando a gente namorava. Eu queria até um abraço dele naquela hora. Queria manter contato. Queria beijar na boca e saber se tinha o mesmo gosto. Eu queria cortar meu rosto. Arranhar com um estilete afiado.

Arranhar com a barba dele.

Mas tudo o que eu fiz foi ouvir ele falar de como eu devia mudar pra minha vida mudar também. Como eu era o culpado pelo jeito que a minha vida está. Sobre como está tudo muuuuuito bem com ele (Estou transando toda semana com um loirinho, você lembra que era o meu sonho?). Pedi pra ele não me contar detalhes.

Eu tenho dessas coisas. Quando algo me magoa, eu não tenho orgulho algum em admitir e pedir pra ser poupado. Não teria estômago para ouvir. Nem teria coragem pra contar as minhas desventuras.

Eu só queria sair daquela conversa com o rosto dolorido. Do mesmo jeito que estava a minha barriga. Eu queria sair com o rosto cheio de hematomas, vermelho e quente. Suado e molhado. Cheio da saliva dele. Cheio de seu cheiro.

Mas fazem dois anos que a gente não se toca assim. Ou quase dois anos.

10 comentários:

  1. comoveu.

    deixa eu dizer que eu sou assim também?

    que tem coisas que são tão nossas, que ex amores não deveriam ousar fazer com outras pessoas,ou ouvir com outras pessoas. magoa ver a pessoa indo nos mesmo lugares e fazendo as mesmas coisas, quando deveria ser com a gente, e não com outra. vidinha complicada e doída essa nossa.

    comoveu viu?

    beijos querido!

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  2. Gostei muito do seu texto. Confore eu ia seguindo a leitura, eu ia sentindo toda essa tristeza que você sentiu. Gostei da relação que você fez com o filme "O Leitor".
    Beijos

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  3. Por isto que reluto em fazer parte de redes socias; sempre temo em me deparar com o presente de um passado. Prefiro deixar ao acaso.

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  4. Fala rapaz!

    Nah, Frozen iogurt é até bom, mas definitivamente é caro demais. Agora, se eu conseguisse essa promoção ai de por 3 reais, certamente eu me esbaldava! Ahauahauahauahau

    Agora, reviver defuntos é complicado viu! Tem que ter uma cabeça muito legal pra não pirar com uma coisa dessas XD. Gostei do texto. E de vários outros por aqui também XD.

    Abração!

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  5. putz!

    eu queria ter escrito isso! =)

    mto bom! vou voltar mais!

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  6. ai...vim pra conferir o texto da promoção e deu vontade até de chorar...tão parecido comigoooo..

    voltarei mais..

    Bjos

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  7. Muito bom seu post, gostei muito!
    Prefiro não pensar no que já passou, espero e corro atrás do vem pela frente!!
    Abraçooo!!!

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