02 abril 2010

Sobrepeso


Era o quarto tratamento para emagrecer que ela fazia. Esse era à base de puro otimismo. Ela acordava, sorria na frente do espelho, aceitava os desaforos do chefe no trabalho, do trocador do ônibus e ia dormir com o sentimento de que o dia seguinte seria melhor. Era a receita que diziam ser mágica e infalível para emagrecer em torno de sete quilos em um mês. Sete quilos era o suficiente para entrar naquele vestido que seu amigo gay dizia que ela arrasava, anos atrás. Era o vestido daquela noite, quando ela beijou cinco pessoas, mas acabou sozinha comendo um cachorro-quente. Todo cachorro-quente tem sua parcela de culpa em sete quilos engordados. O prazo para o tratamento era de um mês. Ela já exercitava seu otimismo. Mesmo sem o tratamento acabar, já ia para as boates com o sentimento de que conseguiria descolar um beijo na boca de algum rapaz, nem que ele usasse roupa falsificada e morasse na Tijuca. Se não fosse um beijo, teria que ser uma passada de mão em sua bunda. Nesse caso, fazia questão de alguém da Barra ou da Zona Sul. Ipanema pra lá, perto da praia, no máximo duas quadras. Bebia bebida quente, que diziam ser menos calórica e sorria com o objetivo de aumentar seu otimismo e ajudar no emagrecimento. Lera a respeito em algumas revistas interessantes. Parecia que a Penélope Cruz usara essa dieta pra fazer Volver. O que se notava era uma falsa alegria, dessas que toda mulher magra exibe. Mas o vestido continuava pequeno demais para o seu quadril. Ela odiava seu quadril. O vestido era preto. Tamanho 36. Só quem veste 36 consegue ser feliz, disse uma vez certa pessoa sábia. Uma mulher que veste mais que isso há de ter problemas. Seja de relacionamento com homens ou roupas, ou de colesterol – para casos mais sérios. Não era o seu caso. No fim de um mês, toda aquela falsa verdade do otimismo foi por água abaixo. Ela continuava uma gordinha atarracada, com um sorriso assustador no rosto e piadas sobre qualquer tragédia. Daquelas gordinhas que vêem o lado bom de tudo. Até do manequim 44. As benditas gordinhas que se sentem bem gordinhas. Aquelas que traumatizam as que acreditam em dietas à base de otimismo e anorexia nervosa. Assim nasce o bom-humor. Que seja estranhamente feliz quem veste mais que 36.

3 comentários:

  1. Estava aqui procurando alguma coisa útil na net, e encontro seu blog =D adorei mesmo.
    Beijoo

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  2. se vc tivesse um pai como o meu, nunca mais comeria!3 de abril de 2010 às 08:52

    uma coisa q esse blog não é: útil

    não estou no 36, nem quero, acho 38 melhor!
    msm assim tb nao estou no 38
    nem conto onde estou, mas no 44 tb não...Ufa!!!

    "segunda eu começo a dieta"

    Isadora Pereira

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