05 março 2010

Sobre cigarros


Bebia coca-cola e fumava o resto do dia. A outra parte era dedicada a mim e ao curso superior. Estava há quilômetros de distância. Nem sei quantos, nunca contamos porque somos otimistas. Mas nos víamos todos os dias.

Em meus sonhos, sempre havia um cigarro. Sempre havia um desenho de engenharia pendurado na parede da janela, ao lado das declarações de amor. As declarações de amor eram feitas com lápis coloridos. O verde e o laranja eram os nossos favoritos.

Quando fazia frio em mim, fazia calor lá. E vice-versa. Nós trocávamos o que podíamos e nos aquecíamos e nos refrescávamos. Íamos dormir com o toque do telefone. Ainda hoje acho que significava algo. Meu toque era uma música eletrônica do início de 2008, depois eu troquei para uma música brasileira. Mais ou menos na época que meu celular parou de tocar.

Hoje em dia, meu celular só vibra. Quase nunca. Minha mão coça pra digitar seus números, enquanto lembro das nossas conversas e das nossas juras. Mas guardo ela no bolso da jeans lembrando também que você já nem sabe meu segundo nome.

Eu costumava subestimar tudo isso. Hoje vejo que teve sua importância. Quando vejo as outras pessoas fazendo o mesmo. Quando vejo sua foto e lembro de você sorrindo. Seu sorriso era tão perfeito. Mesmo que você fosse capaz de achar um monte de outros defeitos para empregar nele. Mas você sorria enquanto falava. Você sorria, enquanto cantava.

Cantava a nossa canção. Sim, nós tínhamos uma canção. E, seus versos, trocávamos como se fossem de nossa autoria. Completávamos nossos trabalhos. Nossas artes. Era tão recíproco. Ou talvez seja parte da minha memória que falha. Prefiro fantasiar.

Lembrar dos desenhos mostrados. Todos eles feitos como se você tivesse seis anos de idade. Corações tortos e vermelhos. Corações feitos com números que não tinham sentido e que foram comprados. Corações feitos com cinzas dos cigarros fumados. O copo de coca-cola sempre gelado, sempre por perto. Ainda que estivéssemos distantes.

Há quilômetros daqui, alguém de vez em quando pensava em mim. E eu pensava de volta. Hoje já não tem importância. Hoje já passaram novas pessoas. Mas a nossa canção... espero que ainda seja nossa.

*Hometown Glory - Adele

4 comentários:

  1. Grato por sempre comentar lá no meu blog, obrigado pela forte presença. Teu blog também é foda!

    se quiser, pode ser meu seguidor e linkar o meu ao teu aqui, abraçao

    *Espero que o oscar surpreenda este ano! rs

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  2. baby vivo passando por essas ... sabe o que eu faço ?
    procuro coisas interessantes p colocar as maos rs
    e nada como novo amor ou novos numeros de celular p ligar... mesmo que o coracao lembre so do antigo...
    bjos baby

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  3. Olá!!!!

    Quem canta essa música e qual o nome dessa canção que te desperta tantas coisas assim? Todos temos um música eu tenho a minha! rsrs
    Abração

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  4. Quando O Sono Não Chegar6 de março de 2010 às 22:22

    Quando O Sono Não Chegar


    Neste quarto de fogo solitário
    No telhado um letreiro esfumaçado
    Candeeiro no peito iluminado
    O cigarro no dedo incendiário
    O cinzeiro esperando o comentário
    Da palavra carvão fogo de vela
    Meus dois olhos pregados na janela
    Vendo a hora ela entrar nessa cidade

    Tô fumando o cigarro da saudade
    E a fumaça escrevendo o nome dela

    O prazer de quem tem saudade
    é saudade todo dia
    O prazer de quem tem saudade
    é saudade todo dia
    Ela é maltratadeira
    Além de ser matadeira
    ô saudade companheira
    De quem não tem companhia
    Eu vou casar com a saudade
    Numa madrugada fria
    Na saúde e na doença
    Na tristeza e na alegria
    Quando o sono não chegar
    No mais distante lugar
    No deserto beira mar
    Dia e noite noite e dia

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