07 março 2010

DDD

Depois de trinta minutos ele ainda estava excitado quando voltou pra cama. Não era permitido reclamar. Sempre foi de conhecimento que ele era comprometido. Que ele gastava horas no telefone, fazendo juras de amor.

Pelo menos ele sempre voltava com havia ido, excitado. Não era preciso nenhum esforço maior para que as coisas voltassem ao clima. Ele simplesmente conseguia manter o clima.

Quando voltava pra cama se amavam, porque ele era do tipo que fazia amor. Odiava falar de sexo casual, fazia carinho como ninguém. Não havia pessoa que não se derretesse aos seus encantos. Ele fazia qualquer pessoa se sentir única. Exceto enquanto estava no telefone.

Não tinha medo de ser descoberto. Ele sabia mentir da maneira certa e de vez em quando conseguia até se fazer de vítima, parecer inseguro, fingia ter medo de ser trocado por outro.

Mas nunca se sabe quando você será trocado, eu dizia a ele.


Enquanto isso ele ocupava a cama alheia, amando mais a si próprio do que a qualquer outra pessoa. Alguns diziam que ele estava certo. Eu sentia uma certa repulsa. Coisas do meu falso moralismo, da minha hipocrisia estendida na minha testa pra qualquer um que queira ver.

Trocava telefones, porque adorava telefonar. Aqueles malditos planos de celulares pré-pagos que te dão direito a falar horas pagando bem pouco. Quem pagava mesmo era quem esperava por ele na cama. Eu já achava caro pagar na mesa do bar. Quase nunca eu pago. Nem caro, nem barato.

Ele era do tipo que te chamava de “meu anjo” porque tinha medo de te chamar de “meu amor”. Amor só tem um, certo? E ele estava longe, esperando sua ligação. Mais trinta minutos de celular, mais 350 juras de amor (?), mais algumas mentiras, encenando uma falsa tristeza. Esse tipo de pessoa sempre parece triste pelo telefone. Pelo menos mais do que pessoalmente.

Quando ele volta pra cama, ele está excitado. Tem gente que acha que isso que é importante. Um telefonema pra outra cidade com o intuito de aquecer o coração de alguém amado e um sexo ereto com o intuito de aquecer a cama de quem se satisfaz com isso. Só com isso.

Porque ele era carinhoso, ele chamava de “meu anjo”. Já é melhor que chamar de coisa alguma. Porque até quando ele enganava era perfeito. Cada um se contenta com o que tem.

4 comentários:

  1. gente...
    Mas esses homens que são fingidos são foda. Lembrei de ano passado que eu era o homem fingido... Sem detalhes
    Beso.

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  2. "cada um se contenta com o que tem".
    Né?

    Mas, de vez em qdo é bom alguém assim, pelo menos pra aquecer a cama...

    Vi q vc queria o selo da playlist, então, faz o seguinte...
    Tá indicado!! haha
    Vai lá buscar!

    Abço ^^

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  3. ouch.
    realismo mandando avisar que está ááárido!

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  4. "Ele sabia mentir da maneira certa e de vez em quando conseguia até se fazer de vítima, parecer inseguro, fingia ter medo de ser trocado por outro."

    muito bom.

    como me achou?

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